Zona Leste e as danças típicas
Flamenco

O Flamenco é a música, o canto e a dança cujas origens remontam às culturas cigana e mourisca, com influência árabe e judaica. Dança típica da Espanha, é proveniente da região de Andaluzia, no sul do país.
Sua forma de cantar, com o tempo, passa a se chamar canto dos ciganos, é um canto que expressa à voz do sofrimento de um povo marcado pela perseguição. As letras demonstram a representação psicológica da desesperança e renúncia e também do amor e esperança.
Originalmente, o Flamenco consistia apenas de cante (canto) sem acompanhamento. Depois, começou a ser acompanhado por guitarra (violão), palmas, sapateado e baile (dança). A guitarra e o baile podem também aparecer sem o cante, embora o canto permaneça no coração da tradição do flamenco. Mais recentemente, outros instrumentos como o cajón (uma caixa de madeira usada como percussão) e as castañuelas (castanholas) foram também introduzidos.
O Flamenco pode ser pensado por essa capacidade de criar significados de linguagem através da dança, do ritmo, cante e guitarra, manifestando as ações humanas cambiantes. Incorporando histórias umas dentro das outras que vão sendo contadas a partir do ritmo que se está dançando. O interprete de flamenco se encontra inserido dentro de um contexto social que é específico, talvez não o original dos criadores desta arte, porém, na expressão desta arte se encontra toda a cultura do passado que é constantemente reencenado e vivido. O baile é expresso por ambos os sexos, pela maneira de se colocar, de se movimentar, de interagir com os músicos e atrair olhares alheios pela maneira de dizer de si, de contar uma história de um povo através do corpo.
Se divide em 3 categorias: Flamenco Jondo ou Antigo, que é o mais tradicional; Flamenco Clássico, o mais moderno e que utiliza novas técnicas; e o Flamenco Contemporâneo, uma mistura dos outros dois já citados , adicionando a eles o jazz e o fusion.
O Flamenco no Brasil surgiu nos anos 50, quando os imigrantes espanhóis começaram a chegar no país. Com mais de 4 gerações de artistas de origem brasileira, ele ainda busca seu espaço no território, tendo ainda pouca visibilidade e apoio, mas com uma crescente aceitação e disseminação.
Fica evidente que o Flamenco é a mais verdadeira e harmônica integração entre arte, cultura e teatralidade na Espanha. Ela, por si só, contagia e faz lembrar de um passado distante, porém marcante, de um povo que, para aliviar a dor, usou a música como a mais bela forma de arte e desabafo.

Após percorrer os caminhos da dança contemporânea e do ballet clássico, a bailarina Alessandra Kalaf encontrou nos movimentos da dança flamenca a autenticidade que buscava para se expressar e se comunicar de forma espontânea com o público.
Iniciou seus estudos de dança flamenca em 1996 no México, e depois de seis meses retornou ao Brasil, integrando por vários anos o elenco do grupo “Laurita Castro”.
Fundou o Grupo Luceros Arte Flamenca em 2001 em parceria com um dos maiores acordeonistas do país, Toninho Ferragutti e desde 2006 vem desenvolvendo com o Grupo Luceros uma pesquisa de movimentação flamenca e musicalidade brasileira com o compositor e músico Toninho Ferragutti.
Abre as portas de seu próprio estúdio em julho de 2006 com a proposta de pesquisar e desenvolver uma movimentação contemporânea sem deixar de explorar os ritmos, a força e a tradição dos bailes flamenco.
O espetáculo “Grupo Luceros dança Toninho Ferragutti” representa a força do Flamenco em palcos brasileiros. O Brasil vive uma fase de muita troca entre bailarinos brasileiros e espanhóis. Estes "bailaores" têm trazido ao Brasil a vanguarda da dança contemporânea flamenca. Em 2015, o Grupo Luceros vem trabalhando um projeto de dança tradicional flamenca, desenvolvido por bailaores espanhóis e produtores brasileiros.
Entrevista realizada com a bailarina e professora de Flamenco, Alessandra Kalaf após seu espetáculo “Grupo Luceros dança Toninho Ferragutti” no Teatro Flávio Império, localizado no bairro Penha (Zona Leste de São Paulo), no dia 26 de abril de 2015:
- Você mora neste bairro? (no caso, bairro Penha)
AK: Não, moro na Pompeia, onde tenho minha escola de dança Flamenca, Estúdio Flamenco Ale Kalaf.
- O que a levou a fazer este tipo de dança? Foi influenciada por algo ou alguém?
AK: Eu fui influenciada por um show que eu assisti no México, quando eu tinha uns 20 anos, e eu me apaixonei. Assisti um tablado no México e lá eu comecei o Flamenco; acabei ficando seis meses fazendo Flamenco lá e me apaixonei assistindo um show mesmo, pegou meu coração.
- O que o Flamenco significa para você?
AK: Eu vim da dança contemporânea, do ballet clássico, vim de outras danças, o Flamenco para mim é onde eu me identifiquei na emoção mais intensa, a gente pode ultrapassar o limite da estética, pode até, às vezes, ficar um pouco feio para demonstrar aquilo que a gente está sentindo, eu achei que ele era o mais real, o mais humano, humano é a palavra. Às vezes é até um pouco esquisito, porque o humano tem mil coisas né, coisas boas, coisas médias, bonitas, feias, eu acho que o Flamenco me pegou por aí.
- Você já teve a oportunidade de se apresentar fora do Brasil?
AK: Eu nunca tive essa oportunidade, mas ainda está nos meus planos me apresentar fora do Brasil, poder levar o Flamenco para outros países.
- Na sua opinião, como este bairro (Penha) facilitou a divulgação deste tipo de dança?
AK: Foi mais pelo boca a boca; eu acho que é tão importante vir para os lugares mais fora do centro de São Paulo, porque arte é isso, a pessoa não tem que ter um pré requisito para se emocionar e a gente está tão carente de se emocionar na vida, estamos tão tecnológicos, tão virtual, em qualquer lugar, aqui, no centro da cidade, eu acho que a arte tira um pouco isso de só pensar com a cabeça e começa a pensar com o coração, sabe? Eu acho que o Flamenco é uma arte, que pode ser feita no Brasil, na Espanha, em qualquer lugar, não é uma identidade somente, aliás, eu acho que é muito mais arte do que identidade.
- Você concorda que a Zona Leste, através da dança, une a cultura brasileira e espanhola e por quê?
AK: Eu acredito que sim. Em relação a essa questão, acho que deveríamos dar um crédito a Secretaria de Cultura, que foi a responsável, neste caso, por trazer o Flamenco, o nosso espetáculo à Zona Leste.
A seguir, fotos e vídeos do espetáculo “Grupo Luceros dança Toninho Ferragutti”:









